segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

''Casamento é uma forma de Prostituição''



Eu também tomei um susto quando vi o título acima, em uma página de internet do jornal inglês The Guardian. Ele chamava para uma matéria sobre a socióloga inglesa Sheila Jeffreys, 61 anos, e seu novo livro “The Industrial vagina” (A Indústria da vagina, sem previsão de lançamento no Brasil), em que ela analisa o crescimento do mercado de prostituição em várias partes do globo. Sheila é uma feminista conhecida e respeitada na Inglaterra. Ícone da revolução sexual dos anos 60 e 70, hoje ela é estudiosa da prostituição. Sheila é da turma de feministas (muito comum na Europa, diga-se de passagem) contra a prostituição e a pornografia. Para ela, dificilmente uma mulher em sã consciência escolhe ser prostituta. Ela jamais usa o termo “turismo sexual” por achá-lo um eufemismo para “turismo de prostituição”. E vai além: é contra a relação sexual “pênis-vagina”. Acredita que o casamento é um contrato em que as mulheres entram com o sexo e os homens com a subsistência. Fiquei curiosa demais para entender melhor os argumentos dela e fiz essa entrevista.




A senhora se diz contra a prostituição, mas no Brasil, muitas prostitutas dizem que não querem mudar de profissão. Elas fazem faculdade, poderiam ser engenheiras ou advogadas, mas afirmam ganhar mais dinheiro vendendo o corpo. Elas fazem uma opção…

Sheila – Essas mulheres são muito sortudas. Mas a vasta maioria das prostitutas, em alguns estudos mais de 90% delas, querem sair. Nós não podemos deixar que a prostituição continue a existir apenas porque poucas mulheres conseguiram tirar um bom dinheiro disso. A grande maioria não consegue. É uma indústria incrivelmente mal paga. Além do que, boa parte do dinheiro ganho vai para os cafetões. Além disso, a maior parte das pessoas não sabe que a prostituição é dolorosa. Na Austrália, por exemplo, há uma orientação para que prostitutas tomem cuidado ao usar anestésicos, pois eles podem esconder ferimentos graves causados pelo ato sexual. Outra orientação é que ao entrar na casa de um cliente, ela deve fazer um tour para descobrir onde ficam as saídas e quantos homens estão esperando por ela. Também deve deixar suas roupas perto da saída para que não tenha que sair correndo nua, e por aí vai. Você acha que isso é bacana? Existe uma grande relutância das mulheres em falar dos males da prostituição. Fala-se apenas da parte glamorosa.



A senhora conhece a história da Heide Fleiss, uma cafetina muito famosa em Hollywood que está buscando dinheiro para abrir um bordel para mulheres? O que você acha dessa inversão?

Sheila – Isso não deu certo, pois os prostitutos tinham pouquíssimas clientes. Alguns homens levavam as mulheres lá, pois queriam vê-las abusadas e acariciá-las ao mesmo tempo. É muito raro mulheres usarem homens na prostituição. Se as mulheres quisessem mesmo usar prostitutos, veríamos muitos bordéis para isso, veríamos homens esperando clientes nas estradas… Mas não vemos. A prostituição existe para quem busca relacões de poder, e a sexualidade masculina é construída nesses princípios.



Mas existem clube de strip-tease para mulheres…

Sheila – Nesses casos, as mulheres morrem de rir. Os clubes de strip masculinos são extremamente sérios, os homens se excitam. Para as mulheres, ver strippers é algo fora do comum, hilário. Elas não vão lá para ficar excitadas.



A senhora é contra o sexo heterossexual?

Sheila – Não é toda relação pênis-vagina que é problemática. Mas essa simbologia é. O homem penetra a mulher e não o inverso. Além disso essa é uma prática que não oferece muito prazer para as mulheres. Poucas têm orgasmos nessa posição. Em terceiro lugar, as mulheres precisam usar formas quase prejudiciais de contracepção para se submeter a essa prática, e o homem não tem de usar nada disso. Se uma dessas formas falhar, não é o homem que lida com um aborto ou uma gravidez indesejada.



A senhora já teve relações desse tipo?

Sheila – Sim, eu era muito ativa na revolução sexual dos anos 60 e 70.



O que sentiu?

Sheila – Eu não gostaria de responder a essa pergunta.



Muitas mulheres transam quando sentem vontade, com homens que elas não tem nenhuma relação, apenas para sentir prazer….

Sheila – A atração sexual é vista como natural entre homens e mulheres, mas na verdade ela é construída.



A senhora pode explicar melhor por que o casamento é uma forma de prostituição?

Sheila – O casamento e a prostituição vem da mesma base: a subordinação das mulheres. O casamento para os homens inclui sexo sempre, quando eles quiserem. Na maior parte dos países não existem leis sobre abuso sexual dentro do casamento. Assume-se que por estar casada a mulher sempre irá querer sexo. Na maior parte dos casamentos as mulheres fazem trabalhos não remunerados como cuidar da casa, das crianças, da terra, etc. Na prostituição, a troca de mulheres por dinheiro é principalmente para o fim sexual, embora existam outros abusos também.



Aqui no Brasil, na Argentina e em outros países os gays e lésbicas estão brigando pelo direito de casar-se legalmente. Qual é a sua opinião sobre isso?

Sheila – Essa é uma estratégia incorreta. Já tive um relacionamento longo, mas não quis me casar. Sou lésbica, feminista e considero o casamento o problema. Devemos construir uma forma diferente de duas pessoas estarem em um relacionamento homossexual ou heterossexual. Sem nenhum dos estigmas do casamento legal ou religioso.



A senhora acredita que as pessoas se casam por amor?

Sheila – O problema é o casamento, não o amor. Não sou contra as pessoas se amarem!



Maria Laura Neves

Um comentário:

  1. Sério??? Eu acho que ela nunca teve uma relação hetero saudável, até porque, como ela mesma afirma, é homossexual. Nesse caso, acredito que ela jamais seria capaz de julgar uma relação pênis-vagina. Santa paciência...

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