sábado, 4 de abril de 2009

E agora, José ?




José ("E agora, José") - Poema, de Carlos Drummond de Andrade

A partir de Sentimento do Mundo (1940), Carlos Drummond de Andrade parece se armar em relação a si próprio e ao mundo. E, se o individualismo evidente nos primeiros livros é mais util, não é por isso menor. O mesmo "eu-oblíquo" contempla-se a si e ao mundo; e, se muitas vezes o pronome na primeira pessoa desaparece, o poeta se desdobra em uma terceira pessoa:- o impessoal "se": "Chega um tempo em que não se diz mais: 'Meu Deus'." (Sentimento do Mundo);- o homem qualquer: "Ó solidão do boi no campo, / ó solidão do homem na rua!" ("O boi");- a simples constatação do fato: "Lutar com palavras / é a luta mais vã" ("O lutador");até chegar a um outro "eu", "José" - "E agora, José?" ("José"), que se pergunta sobre o significado da própria existência e do mundo.

Mas este "José" não é outro senão o poeta. A personagem funciona, no poema, como o desdobramento da personalidade poética do autor, tanto quanto nas demais situações apontadas, atrás de quem o poeta se esconde e se desvenda.O “não-ser” se faz presente neste poema por meio do modo verbal subjuntivo que torna a ação imprecisa:“...Se você dormisse,se você cansasse,se você morresse...”José não dorme, não cansa, não morre, ele é duro, apenas segue. Sua dureza é o que existe e tudo mais é o “nada” no qual ele se funde. Chama-se atenção para o caráter construtivo que o Existencialismo dá à categoria “nada”, ele é o inexistente, mais traz em si o por fazer.Escrito durante a Segunda Guerra Mundial e da ditadura de Vargas, José, apesar da dureza, ainda tem o impulso de continuar seguindo.

Mesmo sem saber para onde: “...Você marcha, José! / José, para onde?”

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